Uma coisa pouco
comentada no mundo dos negócios é que as características do empreendedor
de sucesso são uma faca de dois gumes.
Se misturarmos uma
certa dose de iniciativa com inteligência, autoconfiança, motivação,
criatividade, habilidades interpessoais e uma boa dose de ambição, temos
também todas as características de um bom malandro.
O problema é viver
nesse limite: com centenas, às vezes milhares de reais passando diariamente
pela sua mão, muitos empreendedores, empresários ou consultores ficam
tentados a usar de artifícios escusos para se apoderar indevidamente
de uma parte daquele dinheiro.
Em empresas onde
o profissional não é remunerado adequadamente, ou não é tratado adequadamente
(geralmente por problemas internos de comunicação), muitos pensam: "para
que vou trabalhar mais? Só para deixar meu chefe (ou patrão) ainda mais
rico? Vou é garantir o meu".
A lógica é tem tanto
que se eu tirar só um pouquinho ninguém vai notar. É mais ou menos a
lógica dos políticos corruptos - racionalizam sua desonestidade com
frases como 'se eu não fizer, alguém vai fazer', 'todo mundo faz mesmo',
'vou tirar só um pouco e depois paro', 'tenho que aproveitar para fazer
meu pé de meia', etc.
Mas o pior é que
não param nada - ficam como aqueles alcóolatras que só admitem seu problema
depois que a sua vida se desintegra. Às vezes nem assim. Destróem a
si mesmos e tudo à sua volta.
Um bom empreendedor,
assim como o malandro, vê um mundo repleto de oportunidades - um mundo
cheio de riquezas e de chances. Ao contrário dos perdedores, que olham
e só vêem a parte ruim. Isso o estimula o vendedor a querer pegar um
pouquinho para ele. Se fizer isso corretamente, será uma pessoa de sucesso.
Se não... mais um picareta denegrindo a imagem dos empresários.
Aqui entra justamente
a diferença entre um bom profissional e o malandro: o profissional entende
que o sucesso a longo prazo só pode ocorrer se seus clientes forem também
um sucesso. Entendem que enganar alguém pode até dar lucro a curto prazo,
mas em pouco tempo sua fama de picareta se espalha e daqui a pouco tem
que mudar de cliente, de empresa ou de cidade (de novo).
Qualquer análise
de pessoas bem-sucedidas, principalmente nos dias de hoje, acaba inevitavelmente
mostrando pessoas dedicadas 100% ao que fazem. Com juízes presos, senadores
cassados, Receita Federal atuante e outros exemplos claros de mudanças
sociais, está claro que o Brasil mudou e a malandragem é cada vez menos
lucrativa.
Infelizmente, muitas
empresas ainda insistem em tampar os olhos ou, pior, estimular a desonestidade
(ou quase desonestidade) da sua equipe, dando maus exemplos e respondendo
coisas como "feche o negócio e depois a gente vê" quando perguntados
sobre problemas éticos. Ou o famoso 'faça o que tiver que fazer mas
não me conte'.
Essas histórias
sempre acabam mal. Os malandros acabam sempre querendo fazer negócios
maiores, dar as famosas 'tacadas', encher o bucho de dinheiro, lavar
a égua, etc. Acabam perdendo clientes, sendo demitidos, quando não presos.
Anos atrás fizemos
uma pesquisa sobre Ética em Vendas - começou com esse título mas no
final era uma pesquisa de Falta de Ética em Vendas. Gente que fala mal
dos concorrentes, que faz propaganda enganosa, que vende sem nota -
uma série de comportamentos anti-éticos que beneficiam no curto prazo
o autor da falta, mas que são altamente destrutivos com o passar do
tempo.
Existe uma visão
cretina no Brasil de que só se fica rico roubando, de que pobre não
tem chance. Uma visão burra e imediatista que não estimula corretamente
o estudo, a consistência, o longo prazo. Tudo tem que ser agora, desesperadamente
rápido. Nada mais poderia estar longe da verdade. Um sucesso da noite
para o dia leva anos para ser construído.
O Brasil tem uma
mobilidade social imensa: quem pode dizer que está hoje, financeiramente,
pior do que seus pais estavam quando tinham sua mesma idade? Visto dessa
forma, pouquíssima gente piorou - mas somos imediatistas e queremos
tudo agora. Para alguns a tentação é tão grande que qualquer coisa justifica
saciar sua ambição.
Se você quer atingir
seus objetivos na vida, a primeira coisa que tem a fazer é decidir quais
são esses objetivos. Malandros são pessoas profundamente egoístas: querem
ter alguma coisa que não tem, mas não querem pagar o preço. Então usam
o famoso 'jeitinho'. Às vezes conseguem. Na maioria das vezes não. De
qualquer forma, uma hora serão pegos. Mas a maioria prefere apostar:
tudo bem, posso até ser pego, mas até lá viverei perigosamente. Depois
choram na frente da TV.
O sucesso nos negócios
não tem atalho: você tem que ajudar os outros a resolverem seus problemas,
e aí sim ser adequadamente remunerado por isso. Faça isso com consistência
e, além de ganhar dinheiro, terá um dos maiores valores que alguém pode
ter: uma boa reputação e a segurança de poder dormir tranqüilo. E poder
gastar seu dinheiro sem ter que ficar se preocupando ou dando explicações.
Existe um jogo suicida
chamado 'roleta russa', onde uma pessoa roda o tambor com uma bala dentro,
coloca contra a cabeça e aperta o gatilho. É exatamente o que faz o
malandro com sua vida. Às vezes não acontece nada. Mas uma hora acontece.
E você: conhece
algum malandro jogando roleta russa?
Raúl Candeloro (www.raulcandeloro.com.br),
é palestrante e editor da revista VendaMais®, além de autor dos livros
Venda Mais e Negócio Fechado e responsável pelo site VendaMais® (www.vendamais.com.br).
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