Coerência, transparência e ética (por Raúl Candeloro )
Tenho sentido uma mudança cada vez mais perceptível nas empresas onde tenho palestrado, principalmente quando são familiares. Algumas palavras têm começado a aparecer com força – ética, coerência e, principalmente, transparência. No começo achei que era mais uma moda, mas com o passar do tempo passei a ver que realmente as coisas estão mudando (pelo menos para alguns). Por
exemplo,
é
cada
vez
mais
comum
questionar
reuniões
infindáveis
e
sem
sentido.
No
dia
a
dia
apressado
em
que
vivemos,
não
dá
para
desperdiçar
tempo
discutindo
o
sexo
dos
anjos.
Por
outro
lado,
a
necessidade
de
comunicação
interna
é
inegável,
e
muitas
vezes
só
dá
para
fazer
isso
através
de
reuniões,
onde
as
pessoas
podem
se
ver
e
comunicar
diretamente.
A
solução?
Reuniões
com
temas
definidos,
hora
para
começar
e
acabar,
plano
de
ação
e
cronograma
no
final,
com
responsabilidades
claras
para
cada
um
(inclusive
sobre
quem
vai
fazer
o
follow-up,
ou
acompanhamento,
para
ver
se
o
que
foi
decidido
está
realmente
sendo
feito). Outra
coisa
diferente:
coerência.
Temos
cada
vez
menos
gente
falando
uma
coisa
e
fazendo
outra.
Já
me
ocorreu
de
ter
que
atrasar
minha
palestra
45
minutos
porque
o
diretor
da
empresa
estava
jantando,
deixando
os
80
representantes
e
gerentes
esperando
por
sua
alteza.
Aí,
ao
abrir
o
evento,
a
primeira
coisa
que
o
diretor
diz
é
"Pessoal,
é
muito
importante
respeitar
os
horários,
porque
senão
esta
convenção
vai
virar
uma
bagunça.
Não
quero
desculpas
–
quero
todo
mundo
seguindo
o
horário".
Ou
seja:
faça
o
que
eu
digo,
mas
não
faça
o
que
eu
faço.
Quem
tem
esse
tipo
de
comportamento
não
tem
moral
depois
para
cobrar
nada
–
a
equipe
inteira
presta
muito
mais
atenção
no
que
os
donos,
diretores
e
gerentes
fazem
do
que
nas
coisas
que
dizem.
Felizmente,
isso
está
mudando.
Semanas
depois,
fui
na
convenção
do
concorrente:
a
palestra
começava
às
8:00
da
manhã,
eu
cheguei
às
6:45,
e
o
dono
da
empresa
já
estava
lá,
ajudando
a
arrumar
tudo.
Quando
pediu
respeito
ao
horário,
todo
mundo
entendeu
o
recado,
e
os
horários
foram
respeitados,
sem
precisar
cobrar
nem
dar
bronca.
Essa
é
a
atitude
correta.
Faça
o
que
eu
digo
e
o
que
eu
faço
(porque
são
a
mesma
coisa). Mais
uma
palavra
aparecendo:
ética.
Não
só
em
relação
aos
clientes,
porque
essa
está
todo
mundo
cansado
de
saber,
mas
também
em
relação
aos
colegas,
à
empresa
e
a
si
mesmo.
Não
mentir,
não
jogar
a
culpa
nos
outros,
não
fazer
fofoca,
não
prometer
e
depois
não
cumprir...
tudo
isso
é
necessário
para
manter
o
bom
ambiente
numa
organização.
De
nada
adianta
falar
em
atender
bem
o
cliente
se
a
empresa
é
um
ninho
de
cobras,
com
disputas
internas,
cinismo
e
desmotivação
generalizada.
(Uma
vez
numa
palestra
o
dono
da
empresa
deu
um
abacaxi
para
o
pior
vendedor,
enquanto
todo
mundo
vaiava,
e
depois
fez
seu
diretor
comercial,
um
senhor
de
certa
idade,
humilhar-se
na
frente
de
todos,
dançando
em
público
a
‘dança
da
garrafa’.
Imagine
o
clima.
Ainda
por
cima
não
me
pagaram).
Comece
arrumando
a
casa,
fazendo
com
que
todos
realmente
trabalhem
em
equipe,
e
depois
o
resto
acaba
sendo
conseqüência. Para
finalizar,
transparência.
É
cada
vez
mais
raro
ter
uma
cúpula
que
vive
numa
torre
de
cristal,
lá
em
cima
na
estratosfera,
totalmente
distanciados
da
realidade.
Os
verdadeiros
empresários,
que
continuam
a
valorizar
seu
passado
empreendedor,
participam
ativamente
de
várias
atividades
na
empresa,
mas
entendem
que
precisam
aprender
a
delegar.
Isso
é
um
exercício
difícil
para
qualquer
empreendedor.
Afinal,
uma
das
principais
características
do
empreendedor
é
justamente
arregaçar
as
mangas
e
fazer.
Entretanto,
chega
um
momento
em
que
é
preciso
deixar
de
fazer
e
começar
a
desenvolver
lideranças
internar
que
façam
tão
bem
quanto
ou
talvez
melhor.
Esse
é
o
único
caminho
do
crescimento
numa
empresa.
Isso
significa
dar
liberdade
(e
permissão)
para
que
essas
pessoas
arrisquem,
ousem,
acertem
e
errem.
Significa
também
que
as
decisões
são
discutidas
por
todos
para
depois
serem
implantadas.
A
época
da
ditadura
e
dos
déspotas
(mesmo
que
esclarecidos)
já
passou
faz
tempo.
Se
você
quer
que
a
equipe
realmente
vista
a
camisa,
você
tem
que
fazer
com
que
participem
das
discussões
e
que
possam
opinar,
sabendo
que
sua
opinião
será
ouvida
e
respeitada,
mesmo
que
contrária.
Muitas
empresas
já
estão
até
abrindo
os
números
para
as
equipes,
remunerando
por
resultados,
repartindo
lucros,
etc.
-
mas
para
isso
tem
que
ter
transparência. Veja que anda tudo junto: uma coisa não pode existir sem a outra. Se a sua empresa ainda não trabalha com ética, coerência e transparência, o ambiente interno deve ser péssimo, com alta rotatividade entre a equipe, gente estressada e resultados ciclotímicos (uma hora vai tudo bem, daqui a pouco é um desastre). Ninguém agüenta viver assim muito tempo. Com ética, coerência e transparência, a comunicação na empresa vai certamente melhorar e, junto com ela, o moral da equipe e também seus resultados - não só em vendas mas na empresa como um todo. Leia outros textos deste Autor
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