Uma borboleta voando pode mudar a sua vida?

(por Raúl Candeloro )

 

Todos os grandes matemáticos, usando a Teoria do Caos, dizem que uma borboleta batendo as asas do outro lado do mundo pode provocar um tufão na Indonésia. É que todas as coisas no universo estão de certa forma ligadas, e o bater de asas de uma borboleta pode provocar uma reação em cadeia que termina gerando um tufão.

Se isso pode acontecer, então porque é que não pode fechar sua empresa? Ou mudar sua vida? Já parou para pensar nisso? São tantas variáveis acontecendo na vida que a maioria das pessoas simplesmente desiste de tentar escolher seu destino.

Chuck Yeager foi o primeiro humano a quebrar a barreira do som, voando no seu Bell Aviation X-1. Na época muitas pessoas diziam que a ‘barreira’ era impenetrável, e que ele e seu avião desintegrariam assim que atingisse a velocidade Mach 1 (a velocidade do som).

É claro que a barreira não era impenetrável coisa nenhuma. Era apenas um mito. Anos mais tarde, na sua biografia, Yeager escreveu que "a verdadeira barreira não estava no céu, mas na nossa cabeça – no conhecimento e experiência dos vôos supersônicos".

Da mesma forma, vemos todos os dias pessoas voando baixo, vagarosamente, porque acham que existe alguma ‘barreira’ para uma performance melhor. Uma barreira que os impede de crescer. E geralmente colocam a culpa em fatores externos.

Mas a sua vida não precisa ser assim. Você não precisa viver de susto em susto, de crise em crise, sempre apagando incêndios, sempre perguntado o que virá pela frente, sempre voando baixo. Como assumir o controle?

Já faz algum tempo que sabemos que o futuro será diferente do passado. Mas insistimos em nos recusar a acreditar que nossa vida será diferente do que esperamos que ela seja. A maioria de nós ainda acredita que o futuro será uma continuação do presente, como uma estrada reta que se perde no horizonte.

De acordo com Alvin Toffler, é uma percepção linear, previsível, de que A leva a B que leva a C. Só que a prática mostra que o futuro não é uma continuidade do presente, mas sim uma série de descontinuidades.

E o pior é que nossa educação, ao invés de ajudar a quebrar essas ‘barreiras’, na verdade acaba reforçando-as. As escolas foram desenhadas com a certeza de que todos os problemas do mundo já foram resolvidos, e que o professor conhece todas as respostas.

Então a função do professor passa a ser apresentar os problemas aos alunos, e depois as respostas. Nos ensinam as perguntas e as respostas, mas não a pensar. Por isso a dificuldade quando as perguntas mudam.

Para agarrar o futuro você precisa largar o passado. A única forma de impedir que sua vida seja uma sucessão de descontinuidades é tendo uma estratégia de vida. Se não você é jogado de um lado para outro, de acordo com o vento ou a maré. Ou uma borboleta batendo as asas. E não consegue nunca ir de A para B ou C.

Como diria Toffler, não precisamos que nos ensinem apenas como fazer alguma coisa, mas sim a imaginar o que é possível.

É como quando o primeiro avião conseguiu voar. A partir desse momento, mudou completamente o contexto do desenvolvimento da aviação. Cada avião que caía provava aos cínicos, de forma evidente, que era impossível fazer um avião voar.

Mas quando ele finalmente voou, tudo mudou. As mesmas informações começaram a ser interpretadas de um modo diferente. As quedas passaram a ser vistas como evidências dos erros, de como as coisas não deveriam ser feitas. As pessoas simplesmente começaram a pensar de forma diferente.

A mesma coisa aconteceu com Chuck Yeager e a velocidade do som. As barreiras estavam apenas na cabeça – no conhecimento e na experiência. Bastou alguém dedicar-se a derrubar essas barreiras através de uma boa estratégia para provar que estavam erradas.

Se você quer quebrar suas próprias barreiras e voar alto, precisa de uma estratégia. Estratégia de vida começa com uma proposição diferente de valor, de missão pessoal. É uma forma de definir um território onde você é de alguma forma único.

Estratégia é fazer escolhas. Principalmente, escolher o que fazer diferente, e também o que não fazer. Por isso mesmo você é obrigado a escolher, já que não dá para ser ou fazer tudo.

Esse é outro ponto que deve ficar muito claro: para ter uma boa estratégia você tem que aprender a dizer não. Todos os dias aparecem nas nossas vidas novas propostas de negócios, muitas altamente tentadoras.

Uma pessoa sem estratégia vai acabar distraindo-se ao perseguir negócios que parecem lucrativos, mas que na verdade não tem nada a ver com a estratégia a longo prazo, nem com sua missão de vida. Acabam sugando recursos, tempo e energia, desviando-se da sua missão, confundindo ainda mais sua vida.

As melhores estratégias sempre levam a um objetivo maior. Se não tiver um objetivo bem claro em mente, começará a tomar decisões que inevitavelmente diminuirão sua eficiência.

A essência da estratégia é estabelecer limites. A pessoa sem estratégia está disposta a tentar qualquer coisa. Principalmente, copiar os outros.

Você tem que fazer menos coisas, mas fazê-las muito melhor. Você tem que encontrar e desenvolver vantagens, e não apenas eliminar desvantagens. Criar diferenças, e não apenas copiar: esse é o segredo.

Para terminar, a grande dúvida: vale a pena ter uma estratégia num mundo que muda constantemente? Ela não será uma camisa de força, uma corrente que produz rigidez e inflexibilidade?

Algumas pessoas podem pensar: "As coisas estão mudando rapidamente, então preciso mudar rapidamente também. Logo não posso ter uma estratégia, porque ela me tornaria mais lento".

Acontece que grandes conquistas só são alcançadas por pessoas com objetivos claros e estratégias definidas. Pessoas que não apenas imaginaram voar alto ou quebrar barreiras, mas também bolaram planos para chegar lá.

Por isso Michael Porter defende justamente a idéia contrária: uma boa estratégia na verdade acelera o processo, porque permite que você tome decisões de acordo com seus objetivos.

Peguemos um exemplo como a tecnologia: não adianta comprar todas as bugigangas e novidades tecnológicas que aparecem se isso não tem um objetivo muito claro.

Você não vai aumentar sua produtividade simplesmente porque tem mais aparelhos disponíveis. Você tem que saber para onde quer ir e, com base nisso, tomar as decisões.

Resumindo: ter uma estratégia é ser diferente. Você não é apenas mais uma pessoa – você está ali para trazer algo novo para o mundo, para mudar o mundo, para mudar para melhor a vida das outras pessoas.

Uma vez que você tenha sua estratégia claramente definida, todas as perguntas serão fáceis de responder: ou ajudam você a alcançar seus objetivos, ou não. E finalmente você terá controle da sua vida

 

Raúl Candeloro (www.raulcandeloro.com.br), é palestrante e editor da revista VendaMais®, além de autor dos livros Venda Mais e Negócio Fechado e responsável pelo site VendaMais® (www.vendamais.com.br).

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