As
empresas brasileiras estão cheias de gente morta
(por
Raúl Candeloro)
Em muitas empresas,
vemos cadáveres ambulantes: gente que morreu e não sabe. O brilho dos
olhos se foi, o fogo apagou, a energia sumiu. Provavelmente já estiveram
cheios de entusiasmo, mas depois de tantas chicotadas, desistiram. Morreram
por dentro mas não tem coragem de assumir. Por mais infelizes que estejam,
têm medo de arriscar e serem felizes.
Algumas das coisas
mais importantes nas nossas vidas só aprendemos pelo velho método de
tentativa e erro. Ou pela experiência, com o passar dos anos. Ou observando
os outros. Algumas pessoas aproveitam isso para crescer. Outras ficam
desmotivadas e se entregam.
Coisas como ser
pai, mãe, um bom marido, ou esposa, amigo, chefe (agora a moda é falar
líder) e até mesmo vender se aprendem fazendo. Livros, revistas e cursos
ajudam, mas é como estudar teoria musical: o sujeito sabe tudo no papel,
mas não sabe que está desafinado. E leva o maior susto quando senta
na frente piano de verdade para tocar. O som, que é o resultado final
e justamente o mais importante, ele não conhece nem compreende de verdade.
Só vai entender tocando e ouvindo.
A mesma coisa acontece
com os filhos, relacionamentos amorosos, até mesmo esportes. Por isso
os campeões ficam tantas horas treinando. É para que os atos se tornem
quase mecânicos, mesmo nos menores detalhes. As situações são reconhecidas
automaticamente - não precisa pensar muito. É só bater o olho para saber
rapidamente o que está acontecendo.
Por isso também
os pilotos de Fórmula 1 sempre dão uma ou duas voltas a pé pelo circuito
antes de largar para os treinos com o carro. Querem reconhecer cada
curva, as ondulações da pista, o comprimento das retas. Seria a mesma
coisa se olhassem um mapa com a descrição do circuito? É claro que não.
Mesmo depois, já
no carro, as primeiras voltas são lentas. Em velocidade segura, pode-se
errar sem grandes problemas. Porque mesmo os grandes campeões sabem
que vão errar. Então o que fazem? Estudam o máximo possível e passam
horas analisando todos os detalhes, para quando chegar o grande momento
as chances de erro reduzirem-se drasticamente. E mesmo assim os erros
acontecem.
Essa é a grande
diferença dos vencedores: reconhecer que para ter sucesso é preciso
arriscar-se, e que o risco embute sempre a possibilidade do erro. Decidir
finalmente qual a melhor alternativa e agir. Uma vez que 'o que' fazer
está decidido, o resto fica fácil - é só uma questão de 'como'.
Porque o pior pecado
que se pode cometer é errar por omissão. Por medo. Por preguiça. Tem
tanta gente que fica esperando a oportunidade ideal... e a oportunidade
ideal nunca surge. Simplesmente porque não existe. Acabam não fazendo
coisa alguma. E a vida passa. E acabam morrendo, de verdade, ou pior:
por dentro. Já nem sabem mais porque vivem
Na imensa maioria
das vezes, é um erro maior ficar parado e não agir do que tomar alguma
decisão - mesmo que errada. Porque se estiver errada, vai ser fácil
descobrir e consertar. Além disso, pelo menos você estará no controle.
O que nos leva a
outra característica do sucesso: já dizia um filósofo que as pessoas
de sucesso criam suas próprias oportunidades. Ou pelo menos enxergam
melhor as oportunidades disponíveis. Ao contrário dos perdedores, que
sempre acabam tendo que decidir entre situações sobre as quais não tem
o mínimo controle. E quem não tem controle sobre sua própria vida não
tem nada. Por mais dinheiro que tenha, quem não controla sua própria
vida vai ser sempre pobre.
Isso significa que
qualquer pessoa, independentemente da profissão, formação, sexo, religião
ou raça, tem a grande liberdade de escolher sua própria atitude perante
a vida. Pode ser uma atitude corajosa, ambiciosa, disposta ao risco
calculado. Uma vida na qual você tem o controle. E se der certo ou errado,
foi o seu certo ou errado - não o dos outros.
Por outro lado,
você pode escolher a vida segura. Tomar decisões sempre buscando a certeza.
Só dar um passo quando estiver tudo sob controle. Nunca arriscar-se.
Ser daquelas pessoas que confundem segurança com covardia.
Mas essa segurança
toda é ilusória - pode acabar de um momento para outro. Por mais que
você tente controlar tudo, o universo é grande e complexo demais para
ser controlado. O que você fará quando perder o controle?
E quando chegar
aos 60 anos e olhar para trás, o que vai pensar? Você já ouviu falar
de alguém que atingiu o sucesso sem se arriscar? Isso simplesmente não
existe.
Quem arrisca, e
a palavra diz tudo, está correndo o risco. De errar, certamente. Mas
também de acertar! Se você considerar seus erros como aprendizado, e
seus acertos como vitórias, verá que em certos momentos da vida você
vai ter que se arriscar. Tanto pessoalmente quanto profissionalmente.
Resumindo de forma
prática tudo o que foi dito até aqui: se você quer ter sucesso, tem
que se arriscar e aceitar seus próprios erros, aprendendo com eles.
Mas sem se desencorajar.
Da mesma forma,
se uma empresa quiser ter sucesso, tem que aceitar erros de seus funcionários.
Um ambiente de trabalho onde qualquer deslize é castigado leva fatalmente
à acomodação, à falta de criatividade, à desmotivação. Se os erros se
repetirem, é claro que medidas devem ser tomadas. Mas como uma criança
que cai ao aprender a caminhar, erros só acontecem porque alguém fez
alguma coisa. Já pensou castigar uma criança toda vez que ela caísse?
Teríamos uma nação de adultos rastejando.
Quem não aceita
erros vive preso num círculo vicioso de mediocridade e desmotivação.
Se a sua empresa é assim, faça alguma coisa! A vida é bela e curta demais
para passar a maior parte do seu tempo entre gente tão desmotivada que
parece morta. Como disse Mahatma Gandhi , "A verdadeira liberdade é
a liberdade de cometer erros". Então lembre-se dessa regra da vida:
se quiser acertar, arrisque-se, erre, aprenda e viva mais.
Raúl Candeloro
(www.raulcandeloro.com.br),
é palestrante e editor da revista VendaMais®, além de autor dos livros
Venda Mais e Negócio Fechado e responsável pelo site VendaMais® (www.vendamais.com.br).
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