Como sobreviver ao mundo do downsizing (Luiz Scistowski)

O "fantasma" do downsizing está assombrando milhares de trabalhadores. Mesmo nos países cuja economia vai bem, este é um problema que afeta grande parte da população. Tal situação se deve, basicamente, a dois fatores:

Primeiramente, devemos lembrar que as reestruturações internas são uma necessidade para as organizações que desejam se manter vivas e competitivas frente a esta nova realidade social e econômica. Os negócios precisam se tornar mais enxutos e eficientes, ao mesmo tempo, e ainda reaprender a se relacionar com esse novo mercado que não pára de se transformar. Frente a isso, a maioria das empresas vem redefinindo seus conceitos de gestão, suas formas de empregar recursos, seus sistemas de produção, suas relações com clientes, com fornecedores e com os próprios profissionais.

Em segundo lugar, e como conseqüência disso tudo, empregos de todos os tipos vêm sendo diretamente afetados por estas bruscas transformações. Inúmeras funções de diversos níveis entram em declínio, tornam-se obsoletas e simplesmente desaparecem, enquanto que, por outro lado, surgem novas e mais elaboradas vertentes de aplicação para o trabalho humano.

A automação e o controle dos negócios on line, por exemplo, pulverizaram milhares de cargos administrativos e de mão-de-obra repetitiva, em um passe de mágica. E os burocratas que bravamente ainda sobrevivem a estas transformações, podem considerar seus dias como estando literalmente contados. É frente a este cenário caótico e de incertezas que temos a árdua tarefa de nos manter, firmemente atuantes e competitivos.

Mas, afinal, como sobreviver ao mundo do downsizing?

Bem, a primeira coisa que devemos fazer é entender e aceitar as alterações econômicas que o mundo vem atravessando e procurar interagir, ao máximo, com esta nova realidade. Isto significa, na prática, buscar a requalificação a todo custo, esteja você satisfeito ou não com seu perfil de qualificações. Em uma época onde o conhecimento torna-se obsoleto em curtos espaços de tempo, aprender deve ser encarado como um processo para a vida toda. Este sim é, sem dúvida, o mais importante princípio dos tempos modernos: investir no eterno aprimoramento. Assim, esteja certo de que você vem se atualizando, ao máximo, no seu campo de trabalho. Faça cursos, participe de palestras, eventos e convenções, leia muito e nunca se esqueça de cultivar a sua rede de relações que pode, além de ser um meio precioso de se obter informações de ponta, servir, ainda, como um dos recursos mais importantes para se conquistar novas oportunidades.

Em um segundo momento, é preciso estar atento a um outro tipo de relação com o mercado de trabalho. O profissional moderno deve administrar a sua carreira como sendo um empresário independente. Isto quer dizer, na prática, tomar a frente na gestão da própria carreira e assumir um comportamento voltado à auto-iniciativa, esquecendo a "ultrapassada" e aparentemente segura forma de obter ascensão profissional, galgando lentamente os passos hierárquicos, em uma única empresa. As oportunidades estão, agora, espalhadas pelo mercado como um todo, que deve ser encarado como a única instituição na qual o trabalhador atuará eternamente. Desta forma, considere a possibilidade de assumir diferentes tipos de responsabilidades e não apenas aquelas as quais você já experienciou. Avalie outras oportunidades, mesmo que elas estejam abaixo de suas atribuições como profissional. Estude novas formas de interagir com as empresas... enfim, não limite a suas escolhas futuras. É imprescindível que estejamos preparados frente às demandas desse momento de total "desordem" a fim de que possamos aproveitar os novos horizontes que surgem repletos de oportunidades. E quem estiver com dificuldades para reformular os seus valores, pode se considerar estando em sérios apuros. Afinal, não são poucas as exigências que se fazem necessárias para que se possa participar do mercado de trabalho da era do conhecimento.

Preste atenção em algumas das características que vêm sendo garimpadas pelos empregadores durante os elaborados processos de seleção que visam a identificar o perfil do chamado novo profissional:

1. Ter competências emocionais adequadas.

2. Possuir habilidade de comunicação.

3. Ser flexível.

4. Saber trabalhar em equipe, sendo capaz de liderar um grupo com eficiência.

5. Possuir um perfil generalista, sendo,ao mesmo tempo, especializado em alguma área.

6. Perceber as oportunidades com certa antecedência.

7. Ter uma boa capacidade de adaptação.

8. Estar familiarizado com tecnologias.

9. Ser implicado em um eterno aprimoramento.

10. Possuir um perfil multicultural.

11. Ser dotado de atitude, iniciativa e foco em resultados.

12. Ter ambição de crescimento profissional.

13. Ser ético nas relações.

14. Manter sempre o foco no cliente.

15. Possuir um perfil empreendedor.

Bem, de fato, estamos diante de um momento histórico onde os requisitos básicos para se fazer parte das organizações modernas não são, assim, tão básicos. Para nós, trabalhadores, isso representa a necessidade de uma reeducação em nível profissional. Essa é, com certeza, a nossa saída, porque é apenas revendo os nossos conceitos e estando abertos a outros horizontes que poderemos acompanhar um mundo onde a única constante é a mudança.

 

Luiz Scistowski é psicólogo com extensão na Universidade da Califórnia San Diego, consultor em treinamento.

O artigo é baseado em seu livro "Estratégias para manter a empregabilidade" que está em etapa de revisão/ E-mail: luizsci@zipmail.com.br)

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