É tempo de parar de trabalhar 

(por André Ferrari)

 

Enquanto escrevo este artigo escuto John Lee Hooker, um dos maiores gênios do Blues. O Blues é um ritmo interessante, apresenta sempre a mesma tríade (Lá, Ré, Mi), com direito a compasso tradicional 4x4 e solo de guitarra após o quarto compasso. Assim é o Blues, imutável. Aliás, imutável parece também a mentalidade das empresas.

 

Há quase 100 anos, Frederick Taylor publicou seu livro chamado Princípios do Gerenciamento Científico, no qual concebia uma fórmula E = P ÷ H, para se medir a eficiência de um trabalhador. Segundo ele, a eficiência (E) é igual a produção (P) dividida pelas horas de trabalho (H), mas parece que as organizações continuam adotando essa fórmula arcaica em seu dia-a-dia. O grande desafio do século é, sem dúvida, aumentar a eficiência reduzindo as horas de trabalho.

 

Em alguns países como Espanha, Brasil, Portugal e Itália, existe uma cultura de ampliação da carga horária, fazendo com que os trabalhadores prolonguem sua jornada de trabalho para dez ou doze horas por dia. Em outros países como Estados Unidos, Alemanha, Escandinávia e Austrália, a maioria das pessoas saem do emprego após o término das oito horas diárias de labor. Será que o profissional escandinavo é mais inteligente do que o profissional brasileiro? Será que o gerente alemão é mais eficiente do que o gerente brasileiro?

 

Empresas são – em sua essência - organizações egocêntricas, apáticas e imparciais. Se pudessem elas nos fariam dormir no emprego e controlariam nossos sonhos e pensamentos. Não é preciso relembrar as dezenas de estudos e experiências feitas comprovando que após um período de quatro a cinco horas de atividade intensa, a produção intelectual cai drasticamente. É por isso que a empresa concede horário de almoço, ou você acha que o horário de almoço é para se alimentar? Do ponto de vista da organização, onívora em sua concepção, o horário de almoço tem sua função básica de permitir que o cérebro se oxigene novamente para a segunda etapa do expediente. A grande questão é: por que as organizações, sobretudo as latinas, continuam valorizando a presença do profissional doze horas por dia no escritório, mesmo em detrimento do seu rendimento?

 

Há, claro, um visível excesso de trabalho e atividades acometidas aos profissionais em todos os níveis da organização. Então, o que fazer. O que fazer quando o fardo de tarefas está pesado demais para ser carregado? Parar de trabalhar! Sim, parar de trabalhar! Foi o que fizemos no Grupo Relacione-se. Adotamos o sistema do ócio criativo. Sugerimos que os funcionários parassem de trabalhar 30 minutos antes do final do expediente e pensassem em como melhorar a eficiência de suas atividades. Esses 30 minutos podem ser utilizados pelos colaboradores dentro de suas próprias salas, tomando um cafezinho, em uma sala de reunião ou simplesmente batendo papo no corredor. O importante é a produção de idéias! De fato, não é isso que interessa às empresas? Acreditamos na seguinte fórmula E = I * O. A eficiência, em termos de qualidade e quantidade (E), é igual a quantidade de idéias produzidas dentro da empresa (I) multiplicada pela quantidade de horas de ócio criativo (O). Confesso também que já é possível sentir uma melhora acentuada na qualidade das atividades efetuadas pela empresa.

 

O Blues, esse não pode mudar, mas a relação entre eficiência e produtividade sim. Aliás, já deveria ter mudado há vários acordes atrás.

 

André Ferrari é diretor do Grupo Relacione-se e palestrante.

Site: www.relacione-se.com.br

Email: ferrari@relacione-se.com.br

 

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