Algum problema? Assustou-se com o título? O desejo de um salário menor é tão absurdo assim?

 

A Teoria da Administração sempre procurou estudar as organizações moldando conceitos e técnicas que possibilitassem uma melhor compreensão dos elementos que as compunham. Inicialmente, a T.A  preocupou-se com aspectos intrínsecos às organizações. Enfatizava a produção baseada na racionalização do trabalho. O colaborador possu…Opa! Esse é um conceito moderno... O operário possuía uma visão microscópica de sua função dentro da empresa. Assumia-se o conceito do Homo Economicus: “as pessoas são motivadas apenas por interesses financeiros e materiais”. Essa visão, ainda que míope, conseguiu resolver os problemas relevantes de sua época e cumpriu muito bem a sua missão.   

Não obstante, a evolução das organizações implicou também a evolução da T.A, que adotou uma abordagem sistêmica. Procurou-se analisar os órgãos que consolidavam a organização, seus inter-relacionamentos e atividades. Ainda assim, somente no final do século XIX, a T.A deu os primeiros passos para uma nova roupagem: a visão humanística. Era o tempero que faltava: enfatizar “pessoas” dentro das empresas. Esse viés era sustentado pelo conceito de Homo Social, no qual o homem é motivado, principalmente, pela necessidade de reconhecimento, de participação e de aprovação social nas atividades dos grupos sociais onde vive.

 A Administração já percebeu, há muito, que o ser humano não é movido apenas por dinheiro, e que este não está diretamente relacionado com a produtividade de ninguém. Mas será que nós percebemos isso? Será que ainda não estamos atrelados ao princípio do Homo Economicus? Preocupa-me a miríade de pessoas que buscam profissões baseadas na possibilidade de auferirem retorno financeiro, busca que, sem dúvida alguma, pode trazer frustrações enormes.

 Será que estamos mudando nossas atitudes e buscando novos paradigmas pessoais? Acredito que sim. A cada dia, um número maior de profissionais está buscando qualidade de vida. Qualidade de vida são aquelas coisas simples, como levar a esposa ao cinema, jogar futebol de botão com o filho, fazer exercícios toda manhã etc. O que se pretende é reconquistar um espaço perdido, reconquistar a integração na comunidade e no grupo familiar mesmo em detrimento salarial, bônus de performance e posições dentro da empresa. Uma pesquisa(*) realizada com 1358 pessoas define bem esse novo alinhamento:

 A)       O seu primeiro emprego foi escolhido com base em qual das premissas seguintes:

B)Ganhar dinheiro (62,66%)
Realizar-me na profissão (23,58%)
Passar o maior tempo possível com a minha família (0,83%)
Obter cada vez maior qualidade de vida (10,52%)
Conseguir prestígio (2,41%)

B) Atualmente, você escolheria o seu novo emprego com base em qual das premissas abaixo:

Ganhar dinheiro (16,21%)
Realizar-me na profissão (35,49%)
Passar o maior tempo possível com a minha família (4,18%)
Obter cada vez maior qualidade de vida (40,75%)
Conseguir prestígio (3,37%)

          Bem, os números são claros. No início de carreira, ainda jovem e sem experiência profissional, parece-me razoável que o objetivo maior seja ganhar dinheiro. Para alguns jovens, o fato de se livrarem da âncora que é ser sustentado pelos pais pode aumentar ainda mais a ânsia de ganhar dinheiro. Mas, após o amadurecimento como pessoa e como profissional, percebe-se uma mudança de prioridade. O item “ganhar dinheiro” cai de 62% para 16%. Já o item “passar maior tempo com a família” aumentou assustadoramente em 403%, passando de 0,83% para 4,18%. O item “obter qualidade de vida” aumentou 287%.

 Com relação aos mesmos entrevistados temos: 

Se eu ganhar bem, conseguirei tudo que preciso para a minha vida (39,86%)

Posso ganhar apenas o suficiente, porque a realização é que importa (60,14%)

             É Claro que existem os super-homens dispostos a pagar o preço do sucesso, o que também não é nenhum erro. São grandes líderes que levam a carreira ao extremo. É apenas uma decisão pessoal. Mas, de uma maneira geral, acredito que estamos mudando, de forma positiva, nossos paradigmas pessoais. O dinheiro continua sendo o elemento precípuo de nossa sociedade, eminentimente capitalista, mas vai perdendo sua importância assim que as necessidades básicas do profissional moderno vão sendo saciadas.

(*) Pesquisa realizada pelo grupo Catho.

 

André Ferrari é diretor do Grupo Relacione-se e palestrante.

Site: www.relacione-se.com.br

Email: ferrari@relacione-se.com.br

 

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